terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Crise na criação

Escrever é difícil. Nunca imaginei, tampouco provei uma escrita que fosse fácil. Para alguém tão exigente quanto eu, escrever chega a ser cruel. Porque parece que sempre sobra um tantinho não dito, uma impressão sentida fadada ao esquecimento, pois não fui eficaz o suficiente para traduzi-la.

Para quem sobrevive disso, escrever é contínuo. E sendo contínuo é maçante. Para quem sobrevive disso, a escrita deve ser leve. E para isso, precisa de criatividade. Para quem escreve muito a criatividade, às vezes, falta à mente. 

Em momentos em que as palavras se escondem em montes distantes da memória, escrever de maneira despretensiosa, como faço agora, pode ser útil. Porque tem horas em que eu tenho vontade de desenhar, de pintar um quadro bem colorido e explicar em variações de vermelho, amarelo e azul tudo aquilo que eu quero dizer.

Queria que vocês tivessem o poder de ler, nas entrelinhas do meu olhar, tudo aquilo que um texto diz, e ver que, na verdade, um texto tem muito mais a dizer do que somente o que está escrito.

Sexta-feria publico mais 4 novos textos no Guia. Como alguns sabem, um deles em especial me atormenta. Mas prefiro falar dele mais tarde, somente quando me livrar deste fantasma que tomou formas e hoje representa a minha dor e minha delícia.

Agora vejo porque escrever é fascinante. Porque você se expõe, se revela e fica tão vulnerável a ponto de sentir medo de ser surpreendida pelas próprias palavras, por suas mais íntimas idéias. 

Para mim escrever é uma espécie de auto-exorcismo que expurga pensamentos tão profundos, que eu nem sabia que os tinha.

3 comentários:

Ronaldo Junior disse...

Muito profundo e belo!
Baccio!

Marcos Vieira disse...

Eu sou dos que não acreditam em inspiração. Pra mim escrever é uma sobrejança, um tranbordamendo, uma transpiração da alma... Mas eu compreendo. As palavras às vezes são muito cruéis conosco, por serem insuficientes. Um grito no escuro pode dizer mais. Entretanto, temos essa necessidade de tirar do abstrato para o concreto - exorcizar é uma ótima palavra. Mas é uma necessidade, não uma obrigação. A obrigação é nossa tendinite interior, a grosso modo.
Há os que ao sentir isso que vc sentiu, calam-se. Você teve conragem de confessar a vc mesma, de forma concreta essa impotência e de uma forma verdadeira, sincera.
Beijos.

Marcus Alencar disse...

Eu adorei a sua definição de escrever no final do texto. Afinal, escrever é como um espelho de quem escreve, refletindo ora facetas escondidas ora a verdade que quer ser revelada pelo puro ato da escrita.

Curiosamente, estava aqui lendo a introdução de um livro do Neil Gaiman em que ele fala algo muito interessante: ``Escrever é voar em sonhos. Quando você se lembra. Quando pode. Quando dá certo. É muito fácil``. Escrever, quando não é fácil, mesmo que já saibamos o caminho, é uma tortura que nós, sádicos até, nos lançamos sem medo de ser feliz.

Sempre admirei e continuo a admirar sua escrita e entendo bem seu lado.
beijos